15 maio, 2009

APRENDENDO COM O HIP HOP

http://aprendendocomohiphop.blogspot.com
(Este é o Blog do Projeto Aprendendo com o Hip Hop - acesse para acompanhar os acontecimentos, de 18/05/09 a 05/06/09).

Elisangela Alves dos Santos
Lícia Dantas Hora
Sara Alves Santos


1. JUSTIFICATIVA

A escolha da temática Aprendendo com o Hip Hop surgiu após entrevista realizada com alunos matriculados na 3ª Série do Ensino Fundamental de uma Escola Pública Estadual. O objetivo foi realizar um diagnóstico que levasse em consideração a vivência e interesse de cada um, e o resultado revelou ser a música, em especial o Hip Hop, o grande interesse da maioria.
O ritmo impressiona por ser forte e ativo, e faz com que jovens mexam o corpo, rodopiando e saltando. Registra-se que no início do século XX, a dança (street dance) foi a primeira expressão do Hip Hop que surgiu nos Estados Unidos devido à grande depressão causada pela quebra da Bolsa de Valores, quando músicos e dançarinos, desempregados, passaram a fazer shows nas ruas. Era uma maneira de declarar publicamente a miséria a que foram submetidos e bradar contra o privilégio de pequenos grupos. Outros clamores contra a diferença social, racismo, drogas e violência, também foram realizados em público na Jamaica. Assim surgiu o rap, uma mistura de ritmo e poesia, o ato de exprimir uma miscelânea de sentimentos e angústias, por qual passava a população dos guetos, carente de infraestrutura e de políticas públicas.
A saber, o Hip Hop envolve fundamentalmente quatro elementos que o projeto abordará: primeiro, o grafite, que leva à cena a arte plástica deste movimento cultural através do desenho colorido e marcante; segundo, o rap, que é a poesia escrita e cantada pelo MC – Mestre de Cerimônia; terceiro, o DJ (disc-jóquei), responsável pela parte musical, pelo ritmo que alegra o movimento; e o quarto, a dança de rua (street dance). E é dentro deste ritmo que surgem várias maneiras de revelar os sentimentos, a exemplo do trabalho com os pés (foot work), postura estática (freeze), a parada (break), e a imitação de ondas com os braços (waves).
Fazendo uso da concepção de corporeidade, onde “[...] o homem é visto como ser no mundo e só pode ser compreendido a partir da sua facticidade” (MARQUES, 1997, p. 92), o projeto envolverá o conteúdo programático aos hábitos de vida dos alunos, ao prazer e à inclinação pela música. Porquanto, segundo Freire,

Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos –, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. (FREIRE, 2005, P. 96).

Por certo que a temática impulsionará o desenvolvimento da subjetividade do aluno, favorecendo a sua formação como indivíduo da comunidade e do mundo; abrirá espaço para que ele reflita sobre a diversidade cultural e corporalidade; além de dar liberdade para a construção de hipóteses sobre o lugar onde vive, comparando-as com as formas de protesto do Hip Hop. Também tomará como base os objetivos presentes nos PCNs, como “[...] utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais [...]” (Brasil, 1997).
É importante ressaltar que a criança é vista como um ser que tem estrutura e mentalidade distintas da do adulto, porém capaz de tornar favorável e viver sua própria realidade. Então, torna-se necessário que a sua produção seja compreendida como algo inerente à sua natureza, de maneira que não seja sufocada pelos anseios do adulto. Conforme Darido & Rangel, “[...] é importante dar espaço para a própria liberdade de criação e improvisação do aluno, pois isso lhe possibilitará maior autoconfiança, auto-estima, autonomia e criticidade” (2005, p.217).
Inclusive, a preocupação com a construção da personalidade da criança negra levou o Bloco Afro Ilê Aiyê, em Salvador, a criar o Programa Tambores da Liberdade, que tem como objetivo difundir a cultura Afro no Estado da Bahia. A comunidade que compõe o bloco afirma que:

Os conteúdos da história na participação do afro-descendente na construção da cultura brasileira, não podem mais continuar transversal-superficial. Pelo nosso estudo e resgate, já constatamos que eles são vitais (básicos) para a construção da personalidade e identidade estético-cultural dos nossos filhos que não são a imagem do belo e do inteligente para os padrões oficiais racistas.[1]


Diante desta proposta de valorização cultural e formação do cidadão, percebe-se, mais uma vez, que o conteúdo programático como interesse do professor e do aluno, deve ser um elemento da realidade, um objeto mediador. Portanto, reafirma-se aqui a importância de trabalhar uma temática que valoriza o interesse do aluno, e que precisa ser acolhida pelo professor e pela escola. Para tanto, foram elaborados objetivos que nortearão o trabalho do professor e do aluno, a fim de alcançar o sucesso deste projeto.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral
Possibilitar a construção do conhecimento e favorecer habilidades físicas através do contato com o movimento cultural do Hip Hop.

2.2. Objetivos Específicos

· Português
· Ler, ouvir e cantar rap;
· Produzir rap usando corretamente os sinais de pontuação;
· Criar sinônimos, antônimos e homônimos para palavras encontradas nos raps;
· Identificar substantivos nos textos;
· Localizar nos textos palavras com “g” ou “j”; “s” com som de “z”.
· Arte
· Produzir desenhos com base nos raps trabalhados, já prontos;
· Produzir desenhos a partir dos raps criados em sala de aula.
· Matemática
· Identificar linhas abertas e linhas fechadas em figuras/desenhos do street dance;
· Estabelecer relação entre figuras geométricas;
· Solucionar situações envolvendo problemas com as quatro operações.
· História
· Relatar a aparência das ruas da comunidade;
· Narrar fatores que provocam a violência nas ruas;
· Elaborar rap e grafite para o “Dia das Mães”.
· Geografia
· Localizar no mapa os pontos da origem do Hip Hop;
· Identificar no mapa a cidade, estado, região e país em que mora;
· Enumerar tipos de danças da região nordeste.
· Ciências
· Enumerar os benefícios dos movimentos corporais;
· Listar frutas e vegetais que são importantes para a alimentação;
· Descobrir como bactérias e fungos podem fazer bem ou mal à saúde;
· Listar hábitos de boa higiene corporal.

3. PROCEDIMENTOS DE ENSINO

· Utilização da música – rap;
· Exibição de vídeos sobre o Hip Hop;
· Canto e dança;
· Participação de um dançarino para aulas de street dance;
· Utilização de letras de rap;
· Construção de mural para grafite;
· Exposição didática sobre sinônimos, antônimos e homônimos;
· Exposição didática sobre substantivos;
· Exposição didática de palavras com “g”, “j”, e “s” com som de “z”;
· Exposição de desenhos/figuras com grafite e movimentos do street dance;
· Utilização de mapas;
· Debate e Experiência.

4. RECURSOS

· Aparelho de som e DVD;
· Papel A4 e papel 40kg;
· Mapa Mundi e Mapa do Brasil;
· 1 pacote de gelatina incolor;
· 1 xícara de caldo de carne;
· 1 copo de água;
· Cotonetes;
· Filme plástico;
· Etiquetas adesivas;
· Caneta, lápis, borracha, lápis de cor e giz de cera.

5. FORMAS DE AVALIAÇÃO

A avaliação não terá caráter mensurável. Será realizada gradativamente, em todo processo do projeto, como forma do acompanhamento da aprendizagem e desenvolvimento do aluno. Para tanto, serão realizadas diferentes atividades através das quais os alunos serão orientados e reorientados, quando necessário, valorizando a construção e (re)construção do conhecimento.

6. BIBLIOGRAFIA

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. \Brasília: MEC/SEF, 1997.

COMPROMISSO HIP HOP: Hip Hop não é aquilo que fazes, é aquilo que vives. Disponível em: . Acesso em 09 mai. 2009.

CUNHA JR. Henrique. Ver vendo, versando sem verso, escrevendo e se inscrevendo no Hip Hop. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2009.

FERRÉZ. Rap para crianças e jovens. Disponível em: . Acesso em 22 abr. 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GENTILE, Paola. Como ensinar microbiologia, com ou sem laboratório. Disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2009.

GIACOMOZZI, Gilio; VALÉRIO, Gildete; SBRUZZI, Geonice. Descobrindo a gramática. São Paulo: FTD, 2000.

ILÊ AIYÊ: Projeto Pedagógico do Ilê Aiyê. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2009.

ILÊ AIYÊ: Programa Tambores da Liberdade. Disponível em: http://www.ileaiye.org.br/TAMBORES.htm>. Acesso em: 21 abr. 2009.

NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia de Projetos: Uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. 6 ed. São Paulo: Érica, 2001.

VARGAS, Soyane. Diferentes linguagens na educação física: Projeto Hip Hop na Escola. Relato de experiência. Disponível em: . Acesso em 19 abr. 2009.

VITA, Marcos. Hip Hop no sertão? A produção de artistas regionais é um excelente caminho para apresentar a arte universal. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2009.
[1] Retirado do Site HTTP://www.ileaiye.org.br/TAMBORES.htm