18 setembro, 2008

CINEMA PARADISO. Giuseppe Tornatore, 1989. TFI Films Production. Brasil. Versátil. Home Vídeo. Color, 121 min.

A obra de Giuseppe Tornatore conta a história da vida de Salvatore di Vitto, conhecido como Totó, e seu amigo Alfredo, moradores de uma pequena cidade de Giancaldo, na Itália, numa época pós-guerra, onde a única diversão dos habitantes do lugarejo era o Cinema Paradiso. O sofrimento diante dos reflexos da guerra, a amizade, o amor e a cumplicidade são pontos marcantes deste filme nostálgico, mas abordarei aqui neste relatório os pontos de caráter pedagógico.
Em primeiro lugar os aspectos da escola: Totó freqüentava uma sala de aula apenas para meninos. Percebe-se uma época em que meninos e meninas estudavam em salas separadas, até mesmo em escolas diferentes. A presença da professora autoritária, que constrange e agride fisicamente um aluno por não acertar a tabuada. Também uma cena de Totó e Alfredo fazendo prova juntos evidenciam resquícios de uma época em que crianças e adultos dividiam a mesma sala de aula. E a exigência de que os filhos conseguissem o “canudo” mostra a ausência de preocupação dos pais quanto a formação moral dos filhos, visando apenas uma forma de sair do marasmo de uma cidade em que nada acontece.
Em segundo lugar, a família é apresentada de forma desfalcada, porquanto Totó começa a esquecer da figura do pai que morre na guerra, e conseqüentemente vê no amigo Alfredo a figura de pai e companheiro, aprendendo com este o ofício de projecionista. A mãe, desolada pela perda do marido, vive em situação financeira difícil, como praticamente todos da cidade, e desconta em Totó, com broncas e tapas, as amarguras da sua vida.
Outro ponto enfatizado por Tornatore é o da civilidade, a exemplo dos italianos que trocam palavrões; no velho Cinema Paradiso. A saber, os filmes têm suas cenas de beijos cortadas pela censura da igreja, em nome dos bons costumes, mas no Novo Cinema Paradiso, reconstruído após o incêndio que deixou Alfredo cego, não há censura nem de beijos, nem quanto à faixa etária, fato que desperta a libido de crianças. Desta forma, dentro do cinema que pertence ao mais novo milionário da cidade, ganhador da loteria, e livre da censura da igreja, crianças se masturbam nas cadeiras, enquanto homens se juntam às prostitutas. Outras questões como a higiene (piolhos e banhos) são tratados pela escola de forma expositiva com banhos na praça, e as vestimentas das crianças são semelhantes às dos adultos.
Portanto, Cinema Paradiso é um filme com relevantes questões da história social da criança do período pós-guerra, que nos dá a chance de fazer um comparativo com a situação da criança de hoje, que apesar de contar com mudanças significativas ao longo dos tempos, a exemplo do Estatuto da Criança, algumas ainda vivenciam a autoridade e agressões de alguns professores e da família; presenciam livremente cenas na TV impróprias para sua idade; vivem muitas vezes em lugares em que não há guerra armada, mas minguam por um prato de comida e por uma escola que as tratem e respeitem como crianças. Totó, garoto de sorte, superou as amarguras de uma infância sem pai, encontrando na amizade de Alfredo, nos laços afetivos da mãe, e até no amor frustrado por Elena forças para continuar estudando, trabalhando e se tornar um homem de bem e importante. Como não há perfeição na vida, e como não estamos diante de um conto de fadas, Salvatore se tornou um homem nostálgico, seja pelas lembranças do primeiro e único amor, seja pelas lembranças de uma significativa amizade, ou da infância difícil.

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