18 setembro, 2008

OLIVER TWIST. Roman Polansky, 1948. Cineguild / J. Arthur Rank Films. Inglaterra. 111 min.

O filme de Roman Polansky conta a história de “Oliver Twist”, baseado na obra do escritor Charles Dickens, cuja infância pobre e difícil, obrigou-o a trabalhar desde cedo em uma fábrica. Esta difícil realidade fez de Dickens um grande contestador das injustiças sociais no século XIX.
A história mostra a conturbada vida de um garoto órfão com dez anos de idade, que morava em um orfanato paroquial para meninos. Neste contexto, nota-se a presença de muitos órfãos; o abandono familiar; a conseqüência das condições econômicas e sociais; as ruas multiplicadoras de delitos; como também a existência de instituições para “prevenir”. É com ênfase nestes pontos que inicia a história de Oliver, submetido à autoridade corretiva da instituição, à privação de comida e ao trabalho forçado. Frágil e faminto, Oliver clama por comida, fato que aborrece os responsáveis pela casa de correção. É então enviado à casa de uma família, para prestar serviços - um tipo de contrato de aprendiz - fato que não livrava a criança dos maus tratos, nem do trabalho forçado; sendo tratada com rudeza e intolerância.
Agredido fisicamente por membros da família, Oliver foge para Londres. Este momento do filme chama atenção para a delinqüência infantil, fruto da pobreza; da orfandade; das péssimas condições econômicas; conseqüentemente, abrindo brechas para a prostituição, violência e educação para o crime. Ao chegar à cidade londrina, cansado e maltrapilho, Oliver é recepcionado pelo garoto precoce apelidado de “Matreiro”, ou seja, rapaz experiente, astuto, sabido. Tanta esperteza é utilizada na prática de roubos; é este personagem que serve de ponte para Oliver ser acolhido pelo mundo do crime. Formam um par como Cain e Abel (segundo Faigan), este como Oliver, o bom menino; aquele como Matreiro, o astuto.
Personagens como Fagin (o cabeça do grupo de ladrões); Sikes (o ladrão violento); Nancy e Betsy (gentis ladras), e pequenos delinqüentes, compõem o novo mundo de Oliver. O filme não mostra uma realidade diferente da atual, pois o aliciamento de jovens e todo tipo de violência é ainda uma constante; como também ainda há maior preocupação da força policial em prender o delinqüente, do que salvaguardar a vida de inocentes. Reforçando esse contexto, a história traz fortes cenas de violência, tanto entre adultos; adultos e crianças; bem como entre crianças. Essas cenas ganham maior tensão com o visual de uma cidade fria e chuvosa; a somar-se com a escuridão quebrada apenas pela presença de lampiões. Todos esses fatos fortalecem a discussão sobre a inexistência da noção de criança citada por Philippe Ariès, principalmente quando trata sobre a criança pobre e mal educada. Em contraponto, as poucas cenas felizes e ensolaradas marcam a reviravolta na vida de Oliver, quando este conhece o fidalgo Sr. Brownlow, o qual reconhece no garoto a inocência, a bondade e a boa conduta. Este nobre senhor adota Oliver e livra-o de um mundo desprovido de esperanças.
Percebe-se que o autor Dickens salva seu personagem de um final infeliz, e que Polanski também imortaliza este final feliz com a cena do garoto, bem vestido (traje fino da burguesia, semelhante ao dos adultos) e acolhido carinhosamente pelo seu protetor, seguem juntos numa carruagem, em direção ao novo e aconchegante lar de Oliver, depois de terem visitado Faigan na prisão. Diga-se de passagem, os outros comparsas de Faigan também não tiveram um final feliz.
A história do pequeno Oliver oferece um momento de reflexão sobre o rumo da vida de milhares de crianças que marcam sua ausência na escola e presença constante nas ruas; vivem à mercê da sorte, dos perigos e das mazelas de um cotidiano infeliz. A saber, já se reconhece a “alma” da criança; condena-se o trabalho infantil e a violência; contudo, crianças ainda mínguam por dignidade. É preciso conhecer as políticas públicas, saber o que está acontecendo com a educação, com os princípios da família e nos posicionarmos contra as injustiças.

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